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QB90 No Princípio era o Verbo (parte 1)

Explorando o papel de um profeta na era moderna

Nesta nova série, sinto-me compelido a oferecer uma apologética bem fundamentada e biblicamente defensável sobre o papel dos profetas na era moderna. Tal como acontece com outras doutrinas desafiadoras que explorei e ensinei ao longo dos anos, vamos abordar este assunto com humildade, deixando de lado o preconceito e o preconceito, enquanto buscamos uma compreensão abrangente por meio das Escrituras. O papel dos profetas hoje é muitas vezes mal compreendido, prejudicado ou até mesmo rejeitado — um descuido com aplicação significativa não apenas para a Igreja, mas também para as nações e regiões para as quais os profetas são chamados. Este é um assunto vasto e bem documentado, com muitos livros já escritos. Meu objetivo, portanto, não é adicionar outro volume à conversa, mas fornecer uma exploração concisa e rica em Escrituras do ofício profético, com foco na posição e compreensão únicas do Call2Come. Como um ministério enraizado no chamado profético (enquanto trabalhamos para incluir a parceria apostólica), esperamos que este ensinamento traga maior clareza e compreensão a esse papel enigmático, mas vital. O mandato Call2Come repousa sobre três princípios proféticos fundamentais: 1) “O Espírito e a Noiva dizem: ‘Vem'”, 2) a Noiva atingiu a maioridade e 3) a restauração nupcial de uma nação. Esses princípios ressaltam a conexão integral entre o profético e a preparação da Noiva para o retorno do Senhor, que emoldurará grande parte da discussão nesta série.

O relacionamento entre o Senhor e Seus profetas nas Escrituras fornece uma visão profunda e vívida da dinâmica da comunicação divina. O Antigo Testamento revela uma rica tapeçaria de encontros que demonstram a parceria entre o Céu e os vasos humanos por meio dos quais o conselho do Senhor foi entregue. Como veremos, acredito que esses encontros não foram meramente históricos, mas fundamentais para a compreensão do ofício profético hoje. Eles mostram como o Senhor escolheu revelar Sua vontade, liberar Seu poder e dirigir Seu povo por meio de profetas que serviram como Seus porta-vozes.

Um dos exemplos mais marcantes é o encontro de Isaías na sala do trono (Isaías 6:1-8), onde o profeta se viu diante da majestade do Todo-Poderoso. Os serafins clamaram: “Santo, santo, santo é o Senhor dos Exércitos; toda a terra está cheia de Sua glória!” (v3), e a resposta de Isaías foi de admiração, humildade e consagração: “Eis-me aqui! Envia-me” (v8). Este momento exemplifica a natureza profunda e transformadora do comissionamento divino, onde o chamado de um profeta é selado por um encontro direto com a santidade de Deus.

O chamado de Jeremias ilustra ainda mais essa profunda intimidade, conselho e comissão que caracterizam o relacionamento do Senhor com Seus profetas. Antes do nascimento de Jeremias, o Senhor revelou Seu propósito soberano: “Antes de te formar no ventre, eu te conheci; antes de você nascer, eu o santifiquei; Eu te constituí profeta para as nações” (Jeremias 1:5). Esta declaração destaca a natureza pessoal e íntima do chamado de Deus, enraizado na presciência e na intenção divina. Jeremias inicialmente respondeu com hesitação, declarando-se muito jovem e desqualificado para falar (Jeremias 1:6). No entanto, o Senhor assegurou-lhe com a promessa íntima de Sua presença e capacitação: “Não temas os seus rostos, porque estou contigo para te livrar” (Jeremias 1:8). A comissão foi selada quando o Senhor tocou a boca de Jeremias e disse: “Eis que ponho as minhas palavras na tua boca” (Jeremias 1:9). Esse ato simbolizou a transferência do conselho e da autoridade divina, equipando Jeremias para proclamar o julgamento e a restauração de Deus sobre nações e reinos. O ministério profético de Jeremias seria marcado por profunda intimidade relacional e parceria com Deus, que compartilhou Seus segredos (sôd) com o profeta, e uma comissão inabalável de falar verdades desafiadoras, apesar da grande oposição.

Além disso, o chamado de Ezequiel também demonstra vividamente a poderosa interseção de intimidade, conselho e comissão na vida de um profeta. Em Ezequiel 1, o profeta é transportado para uma visão da glória de Deus, descrita com imagens inspiradoras de rodas de fogo e o brilho do trono divino. Este encontro enfatiza a natureza íntima do chamado de Ezequiel, quando ele é levado à santa presença do Senhor para testemunhar Sua majestade. Oprimido, Ezequiel caiu de bruços em adoração, uma resposta de reverência que refletia sua proximidade com a santidade divina (Ezequiel 1:28). Em Ezequiel 2, o Senhor falou diretamente com ele, dirigindo-se a ele como “filho do homem” e comissionando-o a uma casa rebelde de Israel: “Eu te envio a eles, e tu lhes dirás: ‘Assim diz o Senhor Deus’” (Ezequiel 2:4). As palavras do Senhor transmitiram conselho e autoridade, equipando Ezequiel para a difícil tarefa à frente. Em Ezequiel 3, sua comissão é solidificada quando o Senhor o instrui a comer um pergaminho cheio de palavras de lamentação, luto e aflição, simbolizando a internalização do conselho de Deus (Ezequiel 3:1-3). Esse ato de consumir a Palavra não apenas nutriu Ezequiel espiritualmente, mas o preparou para entregá-la fielmente. O encontro íntimo, o conselho divino e a comissão clara definiram o ministério profético de Ezequiel, capacitando-o a dar testemunho da justiça e misericórdia de Deus em um momento extraordinário e desafiador.

Amós 3:7 diz: “Certamente o Senhor Deus não faz coisa alguma, a menos que revele o seu segredo aos seus servos, os profetas”. A palavra “segredo” neste versículo é o termo hebraico sôd (H5475 de Strong), que transmite a ideia de conselho íntimo, uma deliberação íntima semelhante a uma assembléia ou consulta divina. Essa palavra ressalta a natureza da comunicação de Deus com Seus profetas – não como diretrizes distantes, mas como confidências compartilhadas nascidas da intimidade. A mesma palavra, sôd, é usada em Jeremias 23:22: “Mas se eles tivessem permanecido no Meu conselho (sôd), e tivessem feito o Meu povo ouvir as Minhas palavras, então eles os teriam desviado de seu mau caminho e da maldade de suas ações.” Aqui, o Senhor repreende os falsos profetas que não cumprem Seu conselho. Profetas genuínos são aqueles que entram no lugar secreto da presença do Senhor, recebendo e transmitindo com precisão Sua Palavra. Esse relacionamento não é mecânico, mas profundamente relacional, exigindo que o profeta se alinhe com o coração e a vontade de Deus.

Em todas essas passagens, a ênfase estava em permanecer no conselho do Senhor, o que envolvia não apenas ouvir Sua Palavra, mas também ser transformado por ela. O profeta, portanto, não era apenas um receptor passivo, mas um participante ativo na parceria divino-humana. Eles foram encarregados de liberar palavras que carregavam a precisão de flechas, perfurando reinos visíveis e invisíveis. E assim como o Senhor prometeu a Jeremias, Ele estava cuidando de Sua Palavra para cumpri-la. Jeremias 1:12

Surgem naturalmente perguntas: esses encontros ainda acontecem hoje? Os profetas existem na era moderna? O relacionamento entre o Senhor e Seus profetas hoje é caracterizado pela mesma intimidade e revelação que no Velho Testamento? Alguma coisa mudou fundamentalmente? Ainda existe um conselho celestial para o qual os profetas são convocados?

Ao ponderarmos sobre essas perguntas, podemos perguntar se o Senhor alterou a maneira como Ele nos convida a fazer parceria com Seus propósitos. Claramente, desde a declaração de missão de Cristo em Mateus 16:13-20, a autoridade governamental foi dada à Igreja para exercer a jurisdição do Reino na terra. No entanto, esses versículos não afirmam nem refutam a operação dos profetas dentro do conselho celestial. Então, onde podemos procurar respostas? Existem outras Escrituras que tecem uma tapeçaria de entendimento, oferecendo clareza sobre esses assuntos?

Acredito que existam – e antes de terminarmos a primeira parte desta série, apresento uma aqui para sua consideração.

Malaquias 3:6a NKJV declara: “Porque eu sou o Senhor, não mudo.” Essa declaração profunda ressalta o que os estudiosos chamam de natureza imutável de Deus – Sua eterna consistência em caráter e essência. Enquanto alguns argumentam que essa imutabilidade se estende apenas à natureza de Deus, outros afirmam que inclui Seus caminhos. De fato, embora os atos de Deus sejam muitas vezes novos, responsivos a contextos e circunstâncias específicas, Seus caminhos permanecem inalterados, pois fluem da constância de Seu caráter.

Se essa premissa for verdadeira – que os caminhos de Deus são consistentes porque refletem quem Ele é – então a dinâmica da convocação profética e a parceria divino-humana que elas representam permanecem tão relevantes hoje quanto eram nas Escrituras. No Antigo Testamento, vemos que os profetas foram chamados ao sôd do Senhor, Seu conselho íntimo, onde os reinos visíveis e invisíveis convergiam, e onde o coração e os propósitos de Deus foram revelados e liberados. O papel do profeta não era apenas prever eventos, mas agir como uma ponte entre esses reinos, expressando o coração e a Palavra de Deus aos ouvidos e corações humanos. Esse argumento coloca o papel moderno do profeta firmemente dentro da estrutura dos caminhos imutáveis de Deus. A necessidade de indivíduos chamados a Seu conselho, permanecendo em Sua presença e recebendo Sua Palavra para proclamação às nações permanece imperativa. Por meio dessa parceria duradoura, os profetas atuam como canais da revelação divina, unindo o céu e a terra e capacitando a Igreja a cumprir seu mandato do Reino.

Mais adiante nesta série, exploraremos ainda mais como o Antigo e o Novo Testamento fornecem uma afirmação sólida para os profetas de hoje, não apenas no conselho do Senhor, mas também em seu papel fundamental na igreja com parceria apostólica.

“Deus deu a conhecer a Moisés os seus caminhos, os seus atos aos filhos de Israel.” – Salmo 103:7